domingo, 28 de fevereiro de 2010

DADOS RELEVANTES RESULTANTES DAS ENTREVISTAS COM PACIENTES

• A abordagem do tema SAÚDE é um problemas para as mulheres que fazem sexo com mulheres, havendo um índice altíssimo de mulheres que não buscam atendimento de saúde, em especial o ginecológico;
• Há um constrangimento entre se entender lésbica e não ter coragem de abordar o assunto no consultório;
• Boa parte das entrevistas manifesta a expectativa de que o médico toque no assunto primeiro;
Construímos, junto com a Secretaria Municipal da Saúde de POA, um protocolo de atendimento médico para pacientes lésbicas (http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/sms/usu_doc/protocolo_mulheres_lesbicas2.pdf) que será tema de treinamentos realizados com os profissionais de saúde de Porto Alegre, onde colocamos a necessidade de uma abordagem direta das práticas sexuais de todas as pacientes.
Assim, na(o) ginecologista, quando a(o) médica(o) te perguntar se você tem relacionamento sexual e se ele ocorre com homem, mulheres ou com ambos, aborde diretamente suas práticas, sem medos ou constrangimentos. Só assim, o profissional de saúde poderá lhe dar as dicas necessárias para manter-se segura e feliz, realizada sexualmente.
A forma como você sente prazer não deve ser motivo de vergonha. Fale abertamente com o profissional de saúde.
• Entre as mulheres mais masculinizadas existe um aumento significativo daquelas que nunca foram ao ginecologista que também é sentido em relação a outras especialidades médicas, confirmando a idéia de que a preocupação com a saúde destas mulheres é muito menor do que o geral, reforçando uma associação com o gênero masculino
• Há constrangimento em relação à nudez e aos procedimentos envolvidos no exame, em especial com ginecologistas homens, mas não apenas com estes
VÊ SE TE LIGA! Seu corpo precisa de cuidados como qualquer corpo. Negligenciar sua saúde significa negligenciar a sua vida! Você precisa, sendo mais masculina ou não, fazer exames preventivos de câncer de mama, de colo de útero e de endométrio regularmente. Vá ao ginecologista e exija um tratamento adequado com seu jeito de ser.
• Referências de discriminação nos espaços de saúde pública: minimização de sintomas, piada e insinuações sobre “falta de homem”, tratamento diferenciado das demais pacientes e tentativas de abuso sexual.
• Nas referências de discriminação no ambiente de trabalho – principal espaço de discriminação para a maioria – nasce o receito e a expectativa negativa no atendimento público de saúde, como espaço que pode reproduzir esta discriminação;
• Sentimento de impotência no caso de haver discriminação, já que provar a sua existência é complicado e uma denúncia levaria a uma exposição aumentada, o que não é desejado já que se sentem suficientemente repreendidas pela forma como são “olhadas” ou pelos termos como se referem a elas.
• As mulheres masculina se sentem mais discriminadas pela sua aparência do que pela sua orientação sexual, relatando que até o uso de um banheiro pode ser problema em espaços públicos, pois outras mulheres a vêm como homens
Apesar de os relatos de abusos serem isolados durante a pesquisa o que se percebe é o receio existente entre as mulheres de que a discriminação e o abuso aconteçam.
Saiba que você tem direito a consultas médicas condizentes com sua forma de entender o seu corpo e que os procedimentos técnicos realizados (como o exame de mamas e a coleta do Papanicolaou) podem ser acompanhados por enfermeira se solicitado.
Estes exames são constrangedores para TODAS as mulheres, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero destas. No entanto, são exames FUNDAMENTAIS para prevenir, detectar e tratar, doenças graves que mutilam e MATAM milhares de mulheres por ano no Brasil.
Caso você sofra qualquer tipo de discriminação entre em contato com a Liga Brasileira de Lésbicas (usando nosso e-mail: lbl.rs@brturbo.com.br) e nós a encaminharemos para os serviços de atendimento jurídico adequados para tratar do tema.
Você não está sozinha, confie nas redes que podem apoiá-la e, se ficar mais confortável, leve sua companheira ou uma amiga no consultório para acompanhar a consulta. Isto é direito seu!
O que não dá é para ficarm em risco por medo de que algo não dê certo! Saúde não combina com preconceito!
• Percepção de que os médicos associam a homossexualidade ao sofrimento e que quando percebem um relacionamento tipo Butch-Femme (uma mais masculina e outra mais feminina) isto piora, levando a diagnósticos equivocados, associados a depressão e problemas psiquiátricos, chegando à insinuação de violência entre as parceiras.
Se você perceber este tipo de comportamento no consultório aborde o assunto diretamente, mas não deixe de considerar que para nós, mulheres, é muito importante que os profissionais estejam atentos às questões de abuso e de violência doméstica e que, queiramos ou não, este tipo de violência também acontece em relacionamentos lésbicos.
Profissionais de saúde são pessoas como outras quaisquer e não estão isentas de cometerem erros de avaliação ou de agirem com preconceito, ou mesmo, ainda que bem intencionados, de abordarem o assunto de forma equivocada. É somente na busca por formação, obrigação do profissional comprometido, que corrigiremos estes problemas, mas esta formação deve estar acompanhada de uma participação ativa da paciente durante a consulta. "Desarmadas" e conscientes de nosso papel poderemos auxiliar o profissional neste sentido. Esta campanha realizada em Porto Alegre busca justamente diminuir estes equívocos e propiciar à população lésbica um atendimento respeitoso e adequado.
Os médicos serão treinados e existe material gráfico específico à disposição. Denuncie sempre que se sentir agredida ou desrespeitada pela conduta médica, mas lembre-se de que o preconceito muitas vezes vem do receio que nós, lésbicas, temos de abordar nossas práticas sexuais de forma direta. Vença esse medo e assuma uma postura pró-ativa durante a consulta, corrigindo equívocos e buscando o atendimento sempre que necessário.
• Medo do uso do espéculo (instrumento utilizado para abertura da vagina), em especial para as que nunca tiveram relacionamentos com homens;
• Associação do exame de Papanicolaou com penetração não desejada;
Entendemos o receio e o medo do uso do espéculo, sobretudo para aquelas dentre nós que não utilizam práticas de penetração e ainda têm o hímen preservado.
Os médicos, no entanto, têm instrumentos que podem ser utilizados em mulheres virgens, que causam menos desconforto.
Estes aparelhos são usados nas consultas com adolescentes e devem ser utilizados também com as lésbicas virgens, independentemente de idade.
No entanto, uma entrevista mal feita durante a consulta pode levar o profissional a acreditar que a mulher não é mais virgem. Assim, deixei isso claro durante a consulta e peça o uso do instrumento adequado.
NÃO DEIXE DE REALIZAR o PAPANICOLAOU anualmente. Este exame pode ser a única forma de prevenir ou detectar em fases iniciais um tipo de câncer que MATA no mundo todo.
O mesmo podemos dizer do Câncer de mama, com alta incidência no RS. O auto-exame de mama, apesar de recomendável, não é suficiente para a detecção precoce de nódulos e de cistos. O exame anual, realizado por profissional qualificado, não pode ser abolido.
Vá ao ginecologista e realize os exames regulares.
PAPA NICOLAOU NÃO É BICHO PAPÃO!

Veja os dados estraídos nas entrevistas com pacientes lésbicas

PESQUISA - "As faces da Homofobia no SUS" - 02/2008 a 05/2009
Pesquisadora Principal e Assistente: Daniela Riva Knauth e Nádia Elisa Meinerz
Entrevistadas 35 Mulheres Lésbicas - Usárias do SUS em Porto Alegre